Enfim, uma aventura com imaginação
Camilo de Lélis
O espetáculo infantil Junho: uma aventura imaginária, do Coletivo Nômade de Teatro e Pesquisa Cênica, de Gravataí, faz lembrar antigas
histórias de aventuras, com castelos habitados por seres misteriosos, como o
exemplar O Fantasma de Canterville, de Oscar Wilde. No teatro, um clássico
inesquecível foi Pluft, o Fantasminha, de Maria Clara Machado. Em outros
tempos, havia a preocupação de contar uma história com enredo e personagens
interessantes. Muito se perdeu, nesse sentido, no teatro infantil, pois
frequentemente encontramos espetáculos que não valorizam a inteligência das
crianças, nem a sua capacidade de imaginação. Felizmente reencontramos
essas boas qualidades na peça teatral Junho: uma aventura imaginária, escrita e
dirigida por Thiago Silva.
O enredo apresenta uma família diferente das demais – a
Família Frank –, que sofre discriminação por parte dos habitantes do lugar onde
residem e, por isso, se isola no castelo da matriarca Morgana (Jennifer Ribeiro), a tia-avó de Junho. Junho Frank (Jardel Rocha) é um menino que
gosta de brincar, porém não pode sair do castelo e conviver com outras
crianças. Um dia seu tio lhe traz de presente um livro muito especial, que vai
revelar ao menino o segredo da maldição que paira sobre o castelo. A partir
desse livro, Junho começa a decifrar os mistérios que envolvem a sua família.
Com os poderes do conhecimento adquirido nessa leitura, Junho inicia sua
aventura imaginária. Ele faz uma viagem no tempo e encontra um grupo de
meninas, entre elas a sua mãe, Judith (Alessandra Bier), quando criança. Esse
encontro me pareceu um dos episódios mais interessantes da peça, despertando reações
de espanto e gargalhadas na plateia infantil. Em companhia de sua futura mãe e
de suas duas novas amigas, Jazz (Ana Caroline de David) e Maya (Hayline Vitória), Junho
vai enfrentar o vilão Antenor (Roger Santos ) e seu fiel ajudante Teobaldo (Leonardo
Steffanello). Antenor é o responsável pela difamação e perseguição da Família
Frank. Ele quer sequestrar Judith para forçar toda a família a ir embora do
lugar. As crianças conseguem prender o vilão e fazer com que Teobaldo se
arrependa e se torne livre do jugo do patrão. Com essas peripécias, Junho
modifica o seu passado, refaz a sua história e volta ao presente para viver
feliz com a sua família.
A família Frank está muito bem caracterizada, tendo uma
maquiagem expressionista com detalhes de cílios postiços em apenas um dos olhos
dos atores, o que realça a estranheza dos personagens. Os vilões da história
também estão nesse diapasão. Embora com diferenças no vestuário, o visual deles
está no universo expressionista, porém com detalhes menos fantásticos que os da
Família Frank. As duas meninas que Junho encontra em sua aventura imaginária
têm figurinos simples, de crianças de nossos dias, o que ajuda a evidenciar o
contraste entre os personagens realistas e os fantásticos. A cenografia de
Roger Santos é eficiente para representar o ambiente do castelo, com entradas e
saídas, que facilitam as perseguições, correrias e esconderijos das crianças.
Os belos acessórios: baú, livros antigos, etc. são também criação de Roger. A
trilha sonora original de Régis Moewius e Handyer Borba é inspirada e criativa,
realçando os climas de ação e mistério peça.
Coletivo Nômade de Teatro e Pesquisa Cênica de Gravataí está
de parabéns pela qualidade de seu trabalho, que demonstra preocupação em levar
para as crianças temas atuais, como o bullying, discriminação das diferenças e
principalmente o estímulo a imaginação e ao conhecimento que pode ser
encontrado e adquirido por meio do hábito da leitura.
Crédito da foto: Giuliano Bueno
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