Um Büchner brejeiro
Débora Rodrigues
Na plateia do Teatro Bruno Kiefer para assistir a Leonce e Lena, do grupo Coadjuvantes, de Charqueadas, sem nenhuma expectativa prévia, fui surpreendida com a chegada dos atores cantando alegremente pelas escadarias do Teatro num cortejo que dá início ao espetáculo.
Com texto de Georg Büchner (1813-1837), a peça é uma sátira sobre o amor, com metáforas filosóficas sobre a vida e o ócio, em forma de poesia não declamada muito bem pronunciada pelo conjunto de atores, que estreou o espetáculo há apenas 3 meses. O grupo, que também é recente, formado em 2017, com o intuito de fomentar a arte e a cultura numa cidade que não tem um teatro nem espaços culturais, como eles mesmos enfatizam, criou um espetáculo para a rua, com uma ambientação que remete à Commedia Dell’Arte.
Com bastante desenvoltura e simplicidade na execução dos instrumentos musicais, como violão, gaitinha, cavaquinho e triângulo, além da cornetinha usada diversas vezes para acentuar a comicidade, o espetáculo tem várias inserções musicais contagiantes e por vezes melancólicas, com canções populares infantis como Se essa Rua fosse minha e Alecrim Dourado, agradando as poucas crianças presentes na plateia composta majoritariamente por adultos, podendo este espetáculo ser destinado a todos os públicos.
A área cênica é demarcada por uma espécie de cercado feito de cano de PVC com enfeites de flores em cada mastro e uma corda para fechar o cercado, um tapete de lona e ribaltas feitas de latas com cuidado nos detalhes. O cenário é também muito simples, mas bem executado: duas cadeiras moduláveis confeccionadas para ter múltiplas funções - ora vira escada, ora um banco de praça, ora carroça -, uma tapadeira ao fundo e bonecos azuis suspensos nas cordas do cercado que, ao meu ver, foram mal aproveitados, sendo perfeitamente dispensáveis. Destaca-se o figurino impecável dos atores, em coloridas composições com detalhes no acabamento combinando com os sapatos e os acessórios cuidadosamente elaborados.
Surpreende o fato de o grupo ser incipiente, devido à harmonia dos atores e à qualidade do trabalho desenvolvido em pouco tempo de trajetória. O que comprova que força de vontade, empenho do grupo e dedicação, características inerentes ao artista, podem gerar grandes resultados.
Crédito da foto: Giuliano Bueno
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