Entre dois estilos
Raquel Guerra
A Companhia de Palhaços Clowncando, de Santa Maria,
apresentou o espetáculo Entre Três durante a programação do 3º FESTE, no dia 8
de dezembro. O trabalho é inspirado no texto de Braz Pinto Junior, tem a
direção de Leonardo Rodrigues e atuação de Helen Höhrer, Otávio Arns e Renata
Demarco.
A interpretação mescla situações propostas pelo material
literário com estruturas cômicas de palhaçaria. Contudo, este híbrido não se
concretiza de uma forma fluida, de modo que em alguns momentos ocorre uma
linguagem mais gestual, caricata e cômica, enquanto em outros instantes os
personagens perdem a convenção utilizada. Parece que, de um lado, existem ações
vinculadas ao texto e, de outro, ações vinculadas a uma lógica invertida,
típica dos palhaços.
Em relação à dramaturgia de cena, não ficou claro o que
ocorre entre os personagens, ou por que os mesmos realizam certas ações. Por
exemplo, a dança dos personagens ou a utilização de uma ampulheta como objeto
de cena que controlava as ações.
Logo no início se introduz em cena esta ampulheta, que
marca uma ideia de tempo. Em algumas passagens, parece que os
personagens são controlados por ela, buscando estabelecer talvez uma
brincadeira com um objeto que tem o poder de controlar o tempo. Nesse contexto,
pareceu-me que o que fora proposto seria um mote para desenvolver um jogo
clownesco. Como ideia ele funciona, mas na cena apresentada não se desenvolveu
de fato. De repente, este recurso desaparece e não foi possível perceber o que realmente
representava. Talvez justamente porque a encenação fique entre uma lógica mais
linear e de convenção dramática e uma lógica mais absurda, própria das claques
e reprises de palhaços.
Um ponto positivo foi o desenho de cena das ações
coreografadas, na maior parte das vezes, executadas com precisão de
gestualidade, sobretudo nos momentos em que as cenas propunham comicidade
corporal. E isso com certeza é um mérito da equipe que, além de ser uma
companhia de palhaços que desenvolve espetáculos, dedica-se também ao estudo e
a pesquisa nesta área.
Talvez a apresentação no FESTE não tenha sido o melhor dia de
Entre Três, o espetáculo estava sem ritmo, cenas que deveriam ganhar um tom
mais cômico não atingiram este objetivo. O andamento estava arrastado, dando a
impressão de que os atores estavam fora do tempo. Vale destacar que a equipe da
Cia Clowncando teve dificuldades na organização de sua montagem, por questões
do transporte do equipamento. Conforme o grupo relatou após a sessão, não houve
tempo hábil para encaminhar devidamente questões técnicas de iluminação,
cenografia. Com certeza, essas situações interferem na apresentação e podem
comprometer o desempenho dos atores.
Apesar das dificuldades, Entre Três tem muito caminho pela
frente e conta com um elenco competente para realizar esta tarefa. Não à toa os
atores foram premiados em outros festivais por este e outros trabalhos. Assim,
o grupo, com pouco mais de um ano de existência, tem um longo caminho a frente.
E que sigam encantando e fazendo a graça do palhaço perpetuar.
Crédito da foto: Giuliano Bueno
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