segunda-feira, 10 de dezembro de 2018


Entre dois estilos

Raquel Guerra


 A Companhia de Palhaços Clowncando, de Santa Maria, apresentou o espetáculo Entre Três durante a programação do 3º FESTE, no dia 8 de dezembro. O trabalho é inspirado no texto de Braz Pinto Junior, tem a direção de Leonardo Rodrigues e atuação de Helen Höhrer, Otávio Arns e Renata Demarco.

A interpretação mescla situações propostas pelo material literário com estruturas cômicas de palhaçaria. Contudo, este híbrido não se concretiza de uma forma fluida, de modo que em alguns momentos ocorre uma linguagem mais gestual, caricata e cômica, enquanto em outros instantes os personagens perdem a convenção utilizada. Parece que, de um lado, existem ações vinculadas ao texto e, de outro, ações vinculadas a uma lógica invertida, típica dos palhaços.

Em relação à dramaturgia de cena, não ficou claro o que ocorre entre os personagens, ou por que os mesmos realizam certas ações. Por exemplo, a dança dos personagens ou a utilização de uma ampulheta como objeto de cena que controlava as ações.

Logo no início se introduz em cena esta ampulheta, que marca uma ideia de tempo. Em algumas passagens, parece que os personagens são controlados por ela, buscando estabelecer talvez uma brincadeira com um objeto que tem o poder de controlar o tempo. Nesse contexto, pareceu-me que o que fora proposto seria um mote para desenvolver um jogo clownesco. Como ideia ele funciona, mas na cena apresentada não se desenvolveu de fato. De repente, este recurso desaparece e não foi possível perceber o que realmente representava. Talvez justamente porque a encenação fique entre uma lógica mais linear e de convenção dramática e uma lógica mais absurda, própria das claques e reprises de palhaços.

Um ponto positivo foi o desenho de cena das ações coreografadas, na maior parte das vezes, executadas com precisão de gestualidade, sobretudo nos momentos em que as cenas propunham comicidade corporal. E isso com certeza é um mérito da equipe que, além de ser uma companhia de palhaços que desenvolve espetáculos, dedica-se também ao estudo e a pesquisa nesta área.

Talvez a apresentação no FESTE não tenha sido o melhor dia de Entre Três, o espetáculo estava sem ritmo, cenas que deveriam ganhar um tom mais cômico não atingiram este objetivo. O andamento estava arrastado, dando a impressão de que os atores estavam fora do tempo. Vale destacar que a equipe da Cia Clowncando teve dificuldades na organização de sua montagem, por questões do transporte do equipamento. Conforme o grupo relatou após a sessão, não houve tempo hábil para encaminhar devidamente questões técnicas de iluminação, cenografia. Com certeza, essas situações interferem na apresentação e podem comprometer o desempenho dos atores.

Apesar das dificuldades, Entre Três tem muito caminho pela frente e conta com um elenco competente para realizar esta tarefa. Não à toa os atores foram premiados em outros festivais por este e outros trabalhos. Assim, o grupo, com pouco mais de um ano de existência, tem um longo caminho a frente. E que sigam encantando e fazendo a graça do palhaço perpetuar.

Crédito da foto: Giuliano Bueno




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