Norma densa
Débora Rodrigues
O espetáculo Norma conta a história de uma atriz que já foi ícone do cinema mudo e hoje está esquecida do público. A proposta de encenação é adequada em suas referências ao cinema mudo, incluindo cenário em preto e branco e uma movimentação marcada por gestos cuidadosamente trabalhados e expressões enfaticamente marcadas.
A opção pelo estilo um tanto denso de narrativa é apropriada e atinge o objetivo da proposta da direção, porém, às vezes, torna-se enfadonha. O cenário e os adereços cênicos geometricamente desenhados, assim como a maquiagem dos atores que enfatiza as linhas também geométricas e aprofunda as intenções dos personagens, o deslocamento dos atores com marcações detalhadas e a movimentação cuidadosamente desenhada contribuem para o êxito da proposta. Além da trilha sonora, que assume o papel de sublinhar do início ao fim os momentos da peça, acompanhando a dramaticidade da cena e dando ênfase aos momentos de clímax da encenação.
Os atores desempenham dignamente seus papéis na peça, que é inspirada no filme Crepúsculo dos Deuses (1950), de Billy Wilder. Destaque para o ator Thalles Echeverry, que cumpre empaticamente seu papel de fiel camareiro. Trata-se, vale salientar, de um jovem talento, visto que escreveu a dramaturgia e codirige o espetáculo, juntamente com Eduarda Bento. A atriz Isabelle Vignol é fiel à sua personagem Norma, embora a referência à atriz Gloria Swanson, que estrela Crepúsculo dos Deuses, seja evidente e em alguns momentos a sua movimentação milimetricamente marcada não permita espaço para um sentimento mais espontâneo, senão o que está nas marcações. Se esta foi a intenção do diretor, ótimo, porém, num raro momento em que foge ao estilo característico da sua interpretação em toda a peça, a atriz mostra um pouco de outra faceta, levemente cômica, quando interpreta Medéia e insinua-se para Jasão, deixando o espectador com vontade de conhecer um pouco mais da atriz. Talvez ela pudesse experimentar suavizar as intenções em alguns momentos, dando, assim, uma característica mais humana à personagem.
O tema da peça demonstra a fragilidade do ser humano de uma forma exacerbada, apresentando uma personagem frustrada com seu momento na carreira de atriz, que vive numa outra realidade. A conclusão de Norma não foge ao esperado, reservando forte carga dramática para a cena final. Mas o espetáculo cumpre sua proposta de encenação. Sem dúvida, uma peça elaborada com cuidado em que se denota o trabalho da Cia de Teatro Você Sabe Quem e que certamente tem um longo percurso a trilhar.
Crédito da foto: Giuliano Bueno
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