Os desafios de um teatro para crianças
Camilo de Lélis
A Droga da Obediência é uma adaptação para o teatro da obra
de mesmo título do escritor Pedro Bandeira, ganhador do 28º Prêmio Jabuti de
literatura infantojuvenil e um dos autores de livros para adolescentes mais
vendidos do Brasil. A adaptação foi feita pelo diretor do Grupo Oficina de
Teatro, Pablo Fernando Damian. A Companhia Oficina de Teatro é formado por crianças
da cidade de Santiago.
Como comentarista do espetáculo, não vou me ater a todas as
dificuldades que a encenação apresenta. São crianças brincando de fazer teatro,
e é assim que devem ser vistas. Divertem-se no palco. A situação de estar se
apresentando na capital do estado é uma festa para elas. E o público se
enternece e aplaude.
A cidade de Santiago está de parabéns por dar esse estímulo
às artes cênicas. Seria interessante que fossem convidados profissionais da
área artística para colaborarem com o ensino das técnicas básicas de iniciação
ao teatro. O caminho para isso pode ser um contato com o Instituto Estadual de
Artes Cênicas – IEACen – em busca de oficineiros oficialmente cadastrados.
Quanto à peça apresentada, a adaptação do texto funciona
enquanto narrativa. Entretanto a narrativa não combina com a faixa etária dos
atores. Crimes (houve pelo menos duas mortes por assassinato), tortura, drogas
pesadas, etc., embora não estando totalmente ausentes na realidade social do
país em que vivemos, não se adequam enquanto representação lúdica para essa
turminha.
A direção é simples com alguns achados interessantes, que
poderiam render mais se as meninas e meninos tivessem menos pressa de sair de
cena e pronunciassem as palavras (as deixas) até a última sílaba. Nota-se por
conta desse desacerto entre atuação e texto que tudo é decorado, mas não
vivenciado. Aliás, parece que o texto (sua interpretação) é o que menos
importa, pois as crianças brincam entre si, esquecem as deixas, riem, falam com
os coleguinhas que estão fora de cena, nas coxias. Enfim, um grande recreio
fora da escola, diretamente sobre o palco.
O grupo Oficina de Teatro estaria mais bem colocado num
festival de teatro estudantil, concorrendo com colegas que compartilham seus
jogos e vivências e, principalmente, apresentando um texto de teatro
especialmente escrito para crianças. Poucos anos de vida fazem toda a diferença
entre criança, pré-adolescente, adolescente e jovem. Pesquisar textos adequados
a cada faixa etária é fundamental, quando os atores são as próprias crianças.
Crédito da foto: Giuliano Bueno
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