Dois atores quixotescos
Raquel Guerra
O coletivo Loucos de Palco, de Santa Rosa, apresentou na
tarde de 6 de dezembro, na Sala Carlos Carvalho, o espetáculo Dom Quixote,
inspirado na obra de Miguel de Cervantes e com texto adaptado por Rafael Barcellos. Com certeza um desafio para qualquer grupo ou artista de
Teatro lançar-se na tarefa de uma montagem que aborda a saga heroica do
cavaleiro da triste figura, Dom Quixote de la Mancha. Uma obra de grande volume e
tradição literária solicita uma adaptação condizente, o que de modo geral
pareceu-se que o grupo conseguiu, optando por um recorte que mais falou dos
feitos heroicos do que os mostrou em cena.
A encenação, ao priorizar os diálogos entre os personagens,
careceu de uma elaboração lúdica das ações, uma vez que o grupo se propôs a
participar na categoria de Teatro Infantil. Em muitos momentos, os atores
falavam e caminhavam pelo palco, ora encarando-se, ora voltados para o público,
sem que o corpo assumisse o que estava sendo proposto pela fala. Nesse sentido,
faltou mise-en-scène e a adaptação textual proposta deveria incorporar com
maior vigor o universo imaginário que está presente na obra de
Cervantes.
Liberdades à parte, o Loucos de Palco trabalhou bem na
caracterização dos personagens, e a simplicidade da cenografia colaborou com a
proposta cênica apresentada. No palco estão os atores Jadson Silva (no
papel-título) e Anderson Farias (como Sancho Pança). Jadson também responde
pela direção e assume grande parte da musicalidade do espetáculo. As músicas de
cena contribuem para enriquecer a encenação, principalmente pela entonação com
um toque gauchesco assumido pelo personagem protagonista, Dom Quixote. Embora
um acompanhamento instrumental ao vivo pudesse qualificar as canções, a
proposta opta por um acompanhamento mecânico quando os atores cantam. Isso, no
entanto, não prejudica a recepção, pois as músicas são coerentes com a
performance e contribuem para estruturar a dramaturgia e as transições de
cena.
Dom Quixote circulou o interior do Estado e recebeu os
prêmios de Melhor Ator e Melhor Ator-Coadjuvante, na categoria de Teatro
Infantil, no Festival de Itaqui. O trabalho também foi premiado pelo Festival
de Gravataí. Por suas participações e premiações nestes festivais, o grupo participou
do FESTE e mostrou que o trabalho teatral desenvolvido no interior do Estado
possui grande importância para a manutenção e perpetuação do Teatro no Rio
Grande do Sul.
Crédito da foto: Giuliano Bueno
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