segunda-feira, 9 de dezembro de 2019


Sonhos que voam com O Pássaro Azul

Raquel Guerra


O Pássaro Azul é uma montagem do Coletivo de Teatro A ta,né? apresentada no dia 5 de dezembro, na Sala Carlos Carvalho, como parte da programação do 4º FESTE. Segundo informações de integrantes do grupo, o espetáculo surgiu a partir de um exercício de leitura dramática do texto homônimo de Maurice Maeterlinck  (1862-1949), realizado para uma disciplina do Curso de Teatro da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), de onde origina-se o grupo. Com menos de um ano de estrada - o trabalho surgiu em abril de 2019 -, O Pássaro Azul já percorreu escolas, feiras do livro, espaços de reabilitação social (como o CRAS) e os Festivais de Uruguaiana e de Rosário do Sul, onde recebeu o prêmio de Melhor Espetáculo.

De acordo com a sinopse de O Pássaro Azul: “A peça conta a jornada de duas crianças, Tiltil e Mitil, em busca do Pássaro Azul, segredo da felicidade de todos os homens. Os personagens percorrem lugares mágicos e fantasiosos e encontram seres de todos os tipos no seu trajeto. A peça, em suma, é uma lição de perseverança, coragem e determinação”.

Todo musicado e dedicado ao público infantil, o trabalho apresenta um universo lúdico e onírico, em que os personagens partem em uma viagem para encontrar o Pássaro Azul, metáfora de tantos sentimentos e do próprio sentido da vida. André Barros, Cláudia Gigante e Letícia Conter revezam os papéis e utilizam da convenção do figurino para indicar seus muitos personagens.

O Pássaro Azul foi escrita por Maeterlinck em 1908, que já recebeu inúmeras adaptações para o Teatro e para o Cinema. Com uma estética simbolista, própria do dramaturgo e de seu período histórico, a cena parece solicitar um universo onírico e repleto de metáforas, que devem estar presentes não apenas no texto e na alusão à história contada, mas na encenação como um todo. Na montagem realizada pelo Coletivo de Teatro A ta, né? percebe-se a ênfase na narração, no diálogo direto com o público e nas músicas tocadas ao vivo. As soluções para transição de cena são repetidas a todo momento, e isso gera uma previsibilidade: a cada narração, sabemos que em seguida virá o ator com o figurino de um novo personagem. Na maior parte das cenas, o excesso de narração e de frontalidade torna o ritmo do espetáculo um tanto arrastado, e a ação e o jogo cênico se perdem. 

Outro problema foram os recursos cômicos armados, como a figura do bobo que fica repetindo a ação sem parar até que outro personagem lhe chame a atenção. Esse recurso, tão comum aos cômicos e clowns, foi utilizado indiscriminadamente na montagem. Talvez fosse interessante visitar outros recursos da comicidade. Vale destacar que o grupo foi prejudicado pela ausência de um público infantil na sessão, para quem, afinal, o espetáculo se direciona. Gostaria muito de assistir a O Pássaro Azul com crianças na plateia, pois acredito que o ritmo do espetáculo e da atuação seriam diferentes. Sabemos o tanto que o público influencia o andamento de um espetáculo.

Um aspecto positivo da montagem foram as canções que, embora com melodia simples e poucos acordes, embalaram o ritmo do espetáculo nos momentos de transição de cena e de mudança do contexto narrativo. Acredito que em um espetáculo infantil este elemento tem um lugar fundamental.

Grande mérito do grupo lançar-se nessa empreitada teatral e percorrer os festivais. Por ser um trabalho recente, acredito que O Pássaro Azul tenha muito caminho pela frente. Um espetáculo que explora os sonhos e a metáfora deve valorizar esse aspecto para a formação de nosso público infantil. Que voe mais vezes esse pássaro azul tão filhote, que voe alto e sonhe muito, tão longe quanto a imaginação permita. 

Crédito da foto: Giuliano Bueno

Nenhum comentário:

Postar um comentário