Sonhos que voam com O Pássaro Azul
Raquel Guerra
O Pássaro Azul é uma montagem do Coletivo de Teatro A ta,né? apresentada no dia 5 de dezembro, na Sala Carlos Carvalho, como parte da
programação do 4º FESTE. Segundo informações de integrantes do grupo, o
espetáculo surgiu a partir de um exercício de leitura dramática do texto
homônimo de Maurice Maeterlinck (1862-1949), realizado para uma disciplina do Curso de Teatro
da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), de onde origina-se o grupo. Com
menos de um ano de estrada - o trabalho surgiu em abril de 2019 -, O Pássaro
Azul já percorreu escolas, feiras do livro, espaços de reabilitação social
(como o CRAS) e os Festivais de Uruguaiana e de Rosário do Sul, onde recebeu o
prêmio de Melhor Espetáculo.
De acordo com a sinopse de O Pássaro Azul: “A peça conta a
jornada de duas crianças, Tiltil e Mitil, em busca do Pássaro Azul, segredo da
felicidade de todos os homens. Os personagens percorrem lugares mágicos e
fantasiosos e encontram seres de todos os tipos no seu trajeto. A peça, em
suma, é uma lição de perseverança, coragem e determinação”.
Todo musicado e dedicado ao público infantil, o trabalho
apresenta um universo lúdico e onírico, em que os personagens partem em uma
viagem para encontrar o Pássaro Azul, metáfora de tantos sentimentos e do
próprio sentido da vida. André Barros, Cláudia Gigante e Letícia Conter revezam
os papéis e utilizam da convenção do figurino para indicar seus muitos personagens.
O Pássaro Azul foi escrita por Maeterlinck em 1908, que já
recebeu inúmeras adaptações para o Teatro e para o Cinema. Com uma estética
simbolista, própria do dramaturgo e de seu período histórico, a cena parece
solicitar um universo onírico e repleto de metáforas, que devem estar presentes
não apenas no texto e na alusão à história contada, mas na encenação como um
todo. Na montagem realizada pelo Coletivo de Teatro A ta, né? percebe-se
a ênfase na narração, no diálogo direto com o público e nas músicas tocadas ao
vivo. As soluções para transição de cena são repetidas a todo momento, e isso gera
uma previsibilidade: a cada narração, sabemos que em seguida virá o ator com o
figurino de um novo personagem. Na maior parte das cenas, o excesso de narração
e de frontalidade torna o ritmo do espetáculo um tanto arrastado, e a ação e o
jogo cênico se perdem.
Outro problema foram os recursos cômicos armados, como a
figura do bobo que fica repetindo a ação sem parar até que outro personagem lhe
chame a atenção. Esse recurso, tão comum aos cômicos e clowns, foi utilizado
indiscriminadamente na montagem. Talvez fosse interessante visitar outros
recursos da comicidade. Vale destacar que o grupo foi prejudicado pela ausência de
um público infantil na sessão, para quem, afinal, o espetáculo se direciona.
Gostaria muito de assistir a O Pássaro Azul com crianças na plateia, pois
acredito que o ritmo do espetáculo e da atuação seriam diferentes. Sabemos o
tanto que o público influencia o andamento de um espetáculo.
Um aspecto positivo da montagem foram as canções que, embora
com melodia simples e poucos acordes, embalaram o ritmo do espetáculo nos
momentos de transição de cena e de mudança do contexto narrativo. Acredito que
em um espetáculo infantil este elemento tem um lugar fundamental.
Grande mérito do grupo lançar-se nessa empreitada teatral e percorrer os festivais. Por ser um trabalho recente, acredito que O Pássaro Azul tenha muito caminho pela frente. Um espetáculo que explora os sonhos e a metáfora deve valorizar esse aspecto para a formação de nosso público infantil. Que voe mais vezes esse pássaro azul tão filhote, que voe alto e sonhe muito, tão longe quanto a imaginação permita.
Crédito da foto: Giuliano Bueno
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