A revolução da pesquisa
Nei Charão
A Morte de Danton,
(re)apresentada pelo Coadjuvantes (Charqueadas), como mais uma etapa do Projeto
Büchner: a Trilogia Alemã, realça o conceito de grupos teatrais que surgem, antes
de mais nada, provocados pelo processo da pesquisa e, por consequência, pela
construção de uma identidade e de uma metodologia de criação autônomas. Assim,
a cena nasce recheada de caracterizações muito peculiares tanto do ponto de
vista técnico (figurinos, maquiagem e adereços) quanto da estrutura dramática.
Chama muito
atenção a vivacidade exposta na construção e no conjunto de cenas elaborados pelo
diretor Eduardo Arruda – o espetáculo é conduzido por um elenco vibrante e
parelho, e é difícil salientar esta ou aquela personagem. Isso se deve, no meu
ponto de vista, ao equilíbrio da narrativa e à fruição cênica, e expõe as
habilidades que vão surgindo pela necessidade de exercícios e descobertas, que repercutem
numa maior desenvoltura do artista quando interpreta, canta, toca o instrumento
musical ou utiliza o adereço. O Coadjuvantes é daqueles coletivos que conquista
a plateia pela sucessão de acertos e por sua linguagem característica, embora
com apenas dois aninhos de trajetória.
Na raiz de tudo
está a proposta de promover oficinas pedagógicas de formação continuada para os
integrantes do Coadjuvantes, evitando simplesmente buscar um texto para montar.
Este exercício, o de reconhecer escolas dramáticas, é fundamental para, no
debate interno, estabelecer caminhos e construir identidade, erguendo a partitura
cênica do grupo. O resultado
disso − uma dramaturgia socialmente crítica e esteticamente inquieta,
irreverente, sarcástica e tragicômica − pulsa através de A Morte de Danton, produzida
pelos “coadjuvantes” Yannikson, Eduardo Arruda, Rita Almeida, Nina Alves, Pablo
Bertol, Mayura Matos, Felipe Fiorenza.
O texto
original de Georg Büchner (1813-1837), que aborda sem idealizações a fase do
Terror na Revolução Francesa, é muito bem conduzido pelo grupo de Charqueadas (e
deve ser ainda mais intenso quando encenado na rua), potencializando com
juventude as inquietações do dramaturgo alemão, atualíssimas na medida em que defendem
uma sociedade liberta, igual e fraterna.
A sugestão que
registro é a de que a personagem Mãe República possa transmitir de forma mais
didática o que foi a Revolução Francesa. É necessário considerar que, num país
como o nosso, conhecer o histórico sociopolítico das revoluções não é conteúdo
acessível à maioria.
Vida longa ao
Grupo Teatral Coadjuvantes, de Charqueadas.
Crédito da foto: Giuliano Bueno
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