terça-feira, 10 de dezembro de 2019



A força da parceria

Nei Charão
 

Adaptada por Rafael Barcellos, a versão de Dom Quixote apresentada pelo grupo Loucos de Palco (Santa Rosa) já na chegada nos remete a um universo fantasioso através da sua proposta cenográfica: estamos frente à infinitude do quadrado delimitado pela serragem, com um toco de madeira e um arbusto em um dos cantos, nos posicionando no universo quixotesco.

Jadson Silva, que dirige e interpreta o personagem-título, exibe sua maturidade como ator ao reunir ótima técnica corporal e vocal, sobrando encantamento na simbiose tragicômica e na combinação de registros populares e eruditos na linguagem característica de Quixote. 

Já Anderson Farias constrói seu Sancho Pança a partir de uma estética bem definida, de raiz extremamente popular e ao mesmo tempo ambiciosa, ávido e determinado pela busca de poder. A construção da personagem combina equilíbrio e leveza, avalizando junto ao público infantil as duas principais características de Sancho: amizade e lealdade ao cavaleiro que é seu amo.  

O espetáculo está montado, evidentemente, para atores que já se conhecem muito bem (há pouco assisti a ambos em Dois Perdidos Numa Noite Suja, de Plínio Marcos, no Festival de Erechim). Esse entrosamento com certeza contribui para o excelente resultado do jogo da cena. A direção de Jadson está correta ao não buscar histrionismo em seu Dom Quixote, alçando Sancho a um confortável espaço na cena.

Em sua versão para Dom Quixote de la Mancha, o grupo teatral Loucos de Palco consegue garantir características obrigatórias em sua encenação, como a sátira, a farsa e o humor.  Afinal, ousar adaptar a obra de Miguel Cervantes, um dos textos literários mais traduzidos no mundo, que mereceu de Dostoievski o elogio de que “nada existe de mais profundo e poderoso no mundo inteiro do que essa peça de ficção”, é prova de profunda coragem destes teatreiros.

Crédito da foto: Giuliano Bueno

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