terça-feira, 10 de dezembro de 2019


A revolução da pesquisa

Nei Charão

A Morte de Danton, (re)apresentada pelo Coadjuvantes (Charqueadas), como mais uma etapa do Projeto Büchner: a Trilogia Alemã, realça o conceito de grupos teatrais que surgem, antes de mais nada, provocados pelo processo da pesquisa e, por consequência, pela construção de uma identidade e de uma metodologia de criação autônomas. Assim, a cena nasce recheada de caracterizações muito peculiares tanto do ponto de vista técnico (figurinos, maquiagem e adereços) quanto da estrutura dramática.
Chama muito atenção a vivacidade exposta na construção e no conjunto de cenas elaborados pelo diretor Eduardo Arruda – o espetáculo é conduzido por um elenco vibrante e parelho, e é difícil salientar esta ou aquela personagem. Isso se deve, no meu ponto de vista, ao equilíbrio da narrativa e à fruição cênica, e expõe as habilidades que vão surgindo pela necessidade de exercícios e descobertas, que repercutem numa maior desenvoltura do artista quando interpreta, canta, toca o instrumento musical ou utiliza o adereço. O Coadjuvantes é daqueles coletivos que conquista a plateia pela sucessão de acertos e por sua linguagem característica, embora com apenas dois aninhos de trajetória.
Na raiz de tudo está a proposta de promover oficinas pedagógicas de formação continuada para os integrantes do Coadjuvantes, evitando simplesmente buscar um texto para montar. Este exercício, o de reconhecer escolas dramáticas, é fundamental para, no debate interno, estabelecer caminhos e construir identidade, erguendo a partitura cênica do grupo. O resultado disso − uma dramaturgia socialmente crítica e esteticamente inquieta, irreverente, sarcástica e tragicômica − pulsa através de A Morte de Danton, produzida pelos “coadjuvantes” Yannikson, Eduardo Arruda, Rita Almeida, Nina Alves, Pablo Bertol, Mayura Matos, Felipe Fiorenza.
O texto original de Georg Büchner (1813-1837), que aborda sem idealizações a fase do Terror na Revolução Francesa, é muito bem conduzido pelo grupo de Charqueadas (e deve ser ainda mais intenso quando encenado na rua), potencializando com juventude as inquietações do dramaturgo alemão, atualíssimas na medida em que defendem uma sociedade liberta, igual e fraterna.
A sugestão que registro é a de que a personagem Mãe República possa transmitir de forma mais didática o que foi a Revolução Francesa. É necessário considerar que, num país como o nosso, conhecer o histórico sociopolítico das revoluções não é conteúdo acessível à maioria.
Vida longa ao Grupo Teatral Coadjuvantes, de Charqueadas.
Crédito da foto: Giuliano Bueno 

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