sábado, 7 de dezembro de 2019


Os desafios de um teatro para crianças

Camilo de Lélis


A Droga da Obediência é uma adaptação para o teatro da obra de mesmo título do escritor Pedro Bandeira, ganhador do 28º Prêmio Jabuti de literatura infantojuvenil e um dos autores de livros para adolescentes mais vendidos do Brasil. A adaptação foi feita pelo diretor do Grupo Oficina de Teatro, Pablo Fernando Damian. A Companhia Oficina de Teatro é formado por crianças da cidade de Santiago.

Como comentarista do espetáculo, não vou me ater a todas as dificuldades que a encenação apresenta. São crianças brincando de fazer teatro, e é assim que devem ser vistas. Divertem-se no palco. A situação de estar se apresentando na capital do estado é uma festa para elas. E o público se enternece e aplaude.

A cidade de Santiago está de parabéns por dar esse estímulo às artes cênicas. Seria interessante que fossem convidados profissionais da área artística para colaborarem com o ensino das técnicas básicas de iniciação ao teatro. O caminho para isso pode ser um contato com o Instituto Estadual de Artes Cênicas – IEACen – em busca de oficineiros oficialmente cadastrados.

Quanto à peça apresentada, a adaptação do texto funciona enquanto narrativa. Entretanto a narrativa não combina com a faixa etária dos atores. Crimes (houve pelo menos duas mortes por assassinato), tortura, drogas pesadas, etc., embora não estando totalmente ausentes na realidade social do país em que vivemos, não se adequam enquanto representação lúdica para essa turminha.

A direção é simples com alguns achados interessantes, que poderiam render mais se as meninas e meninos tivessem menos pressa de sair de cena e pronunciassem as palavras (as deixas) até a última sílaba. Nota-se por conta desse desacerto entre atuação e texto que tudo é decorado, mas não vivenciado. Aliás, parece que o texto (sua interpretação) é o que menos importa, pois as crianças brincam entre si, esquecem as deixas, riem, falam com os coleguinhas que estão fora de cena, nas coxias. Enfim, um grande recreio fora da escola, diretamente sobre o palco.

O grupo Oficina de Teatro estaria mais bem colocado num festival de teatro estudantil, concorrendo com colegas que compartilham seus jogos e vivências e, principalmente, apresentando um texto de teatro especialmente escrito para crianças. Poucos anos de vida fazem toda a diferença entre criança, pré-adolescente, adolescente e jovem. Pesquisar textos adequados a cada faixa etária é fundamental, quando os atores são as próprias crianças.

Crédito da foto: Giuliano Bueno

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